Patologias do Ombro

Osteólise distal da clavícula: sintomas e tratamento

Dor na articulação acromioclavicular após treino pode ser osteólise distal da clavícula. Veja sinais, diagnóstico e tratamento.

A osteólise distal da clavícula costuma incomodar bem no alto do ombro, naquele ponto onde a clavícula encontra o acrômio, na articulação acromioclavicular.

É um quadro que aparece muito em quem repete movimentos com peso, principalmente na musculação quando a rotina mistura cargas altas com muitas séries.

No trabalho, o risco sobe quando o braço passa boa parte do tempo acima da cabeça. Carpintaria e construção civil são exemplos clássicos.

O ponto central é reconhecer cedo, ajustar o que está irritando a articulação e conduzir um plano de reabilitação bem feito.

Com isso, boa parte dos pacientes melhora sem cirurgia e volta ao treino com segurança.

O que é a osteólise distal da clavícula

A clavícula, na sua extremidade mais lateral, se articula com o acrômio (parte da escápula) formando a articulação acromioclavicular.

Ela tem pouca mobilidade e é estabilizada por ligamentos fortes. Quando essa região recebe carga excessiva de forma repetida, ocorre uma resposta de estresse ósseo com inflamação local e reabsorção do osso na ponta distal da clavícula. É isso que define a osteólise distal da clavícula.

O problema aparece com mais frequência antes dos 40 anos, especialmente em homens que treinam pesado, mas pode ocorrer em qualquer idade quando a sobrecarga se mantém.

Por que esse quadro aparece na musculação e em trabalhos pesados

A articulação acromioclavicular costuma sofrer em movimentos que comprimem a clavícula contra o acrômio. Na academia, alguns padrões aumentam esse estresse:

  • Supino com pegada muito aberta e grande volume semanal;
  • Mergulho nas paralelas e variações com amplitude profunda;
  • Desenvolvimento acima da cabeça com técnica instável;
  • Exercícios com carga alta somados a pouca recuperação;
  • Retorno acelerado após pausa longa, subindo carga rápido demais.

No trabalho, carregar peso repetidamente, levantar objetos acima do nível do ombro e sustentar cargas por tempo prolongado pode reproduzir o mesmo mecanismo.

O resultado é dor localizada e queda de desempenho, com piora clara em certos gestos.

Sintomas que chamam atenção

O sintoma mais comum da osteólise distal da clavícula é a dor no topo do ombro, bem sobre a articulação acromioclavicular.

Muitos pacientes descrevem como uma dor pontual, “na ponta da clavícula”, que piora quando o braço cruza o corpo ou quando empurra carga no supino.

Sinais típicos no dia a dia e no treino:

  • Dor ao tocar a articulação acromioclavicular (palpação local bem dolorosa);
  • Incômodo ao vestir camisa, colocar cinto de segurança ou dormir de lado no ombro afetado;
  • Piora em exercícios de empurrar e em movimentos acima da cabeça;
  • Queda de força por dor, com receio de “travar” o gesto.

Diagnóstico: como confirmar com segurança

O diagnóstico da osteólise distal da clavícula começa pela história: dor localizada no topo do ombro, relação direta com treino ou esforço repetitivo e piora em gestos específicos.

O exame físico direciona a suspeita com palpação dolorosa da articulação acromioclavicular e testes provocativos, como o cross-arm.

Os exames de imagem entram para confirmar e graduar o quadro:

  • Radiografia: pode ser normal no início. Em casos crônicos, pode mostrar cistos subcondrais, irregularidade e redução óssea na extremidade distal.
  • Ressonância magnética: costuma ser o exame mais sensível nas fases iniciais, pois evidencia o edema ósseo na clavícula distal e no acrômio, típico de estresse na articulação acromioclavicular.

Quando a dor persiste, é comum investigar também diagnósticos associados, como artrose acromioclavicular, impacto subacromial e tendinopatia do manguito.

Esse cuidado evita tratar “pela metade” e acelera a recuperação.

Como é o tratamento

O tratamento com médico ortopedista de ombro quase sempre começa de forma conservadora. A meta é tirar a sobrecarga que mantém o osso inflamado e reconstruir a tolerância ao esforço com reabilitação dirigida.

Um plano bem conduzido geralmente envolve:

  1. Modificação de atividade: pausar ou ajustar os exercícios que disparam a dor (supino pesado, paralelas, cargas altas acima da cabeça);
  2. Gelo: útil nas fases mais dolorosas, especialmente após esforço;
  3. Anti-inflamatórios: podem ajudar por curto período, com orientação médica, respeitando contraindicações;
  4. Fisioterapia: foco em mobilidade e controle escapular, sem “forçar por cima” da dor.

Na reabilitação, é comum trabalhar alongamento de peitorais e cápsula posterior, depois fortalecimento progressivo do manguito rotador e dos paraescapulares (serrátil anterior, trapézio e romboides).

O objetivo é melhorar a mecânica do ombro, reduzir a compressão na articulação acromioclavicular e permitir o retorno gradual às cargas.

Em casos selecionados, quando a dor não cede com os ajustes e a fisioterapia, a infiltração na articulação acromioclavicular pode ser considerada.

Ela tende a aliviar a inflamação e a dor, facilitando a progressão do fortalecimento.

Quando a cirurgia é indicada

Quando o tratamento conservador falha e a osteólise distal da clavícula segue limitando o treino, trabalho e sono, o tratamento cirúrgico entra como opção.

Um procedimento bastante utilizado é a ressecção do terço distal da clavícula por artroscopia, cuja proposta é retirar uma pequena porção do osso na extremidade distal para eliminar o contato doloroso na articulação acromioclavicular, preservando a estabilidade.

No pós-operatório, o ritmo de retorno depende do nível de dor, do controle de movimento e do trabalho de fortalecimento.

Em geral, há um período inicial de proteção, seguido por ganho gradual de mobilidade e força.

Prevenção: como reduzir risco de voltar a doer

Para reduzir a recidiva, a prevenção passa por dosar volume e carga e ajustar técnica. Alguns pontos práticos ajudam bastante:

  • Progredir cargas em semanas, não em dias;
  • Reduzir excesso de amplitude em exercícios que comprimem a articulação acromioclavicular;
  • Variar estímulos e respeitar descanso;
  • Fortalecer manguito rotador e estabilizadores da escápula de forma contínua;
  • Procurar avaliação quando a dor for localizada no topo do ombro e persistir por mais de 10 a 14 dias, mesmo com ajustes.

Com diagnóstico correto e um plano bem executado, a osteólise distal da clavícula costuma ter bom controle, com retorno seguro às atividades.

FAQs

Osteólise distal da clavícula é grave?

Geralmente não é grave, mas pode virar um problema persistente se a sobrecarga continuar. Com ajuste de treino e reabilitação, muitos casos evoluem bem.

Qual exercício mais costuma piorar a dor?

Supino pesado com pegada muito aberta e alto volume, mergulho nas paralelas e algumas variações acima da cabeça costumam ser os gatilhos mais comuns.

A radiografia sempre mostra a osteólise distal da clavícula?

Não. No começo pode estar normal. Em fases crônicas, pode aparecer irregularidade, cistos subcondrais e redução óssea distal.

Ressonância magnética é mesmo necessária?

Em muitos casos é o exame que confirma o quadro nas fases iniciais, pois costuma mostrar edema ósseo na articulação acromioclavicular quando a radiografia ainda não ajuda.

Quanto tempo leva para melhorar sem cirurgia?

Varia. Com pausa do gatilho e fisioterapia bem direcionada, muitos pacientes percebem melhora em semanas, com retorno gradual às cargas em etapas.

Infiltração resolve o problema?

Pode aliviar dor e inflamação, principalmente quando o quadro está resistente ao tratamento inicial. O resultado é melhor quando vem junto de correção de carga, técnica e fortalecimento.

Quando pensar em cirurgia para osteólise distal da clavícula?

Quando há limitação relevante e a dor não melhora com modificação de atividade, fisioterapia e medidas clínicas bem conduzidas. A artroscopia com ressecção distal é uma opção comum.

Dr. Thiago Caixeta

Especialista em cirurgia minimamente invasiva de ombro e cotovelo em Goiânia, CRM/GO 1329, RQE 8070. Membro da SBOT, SBCOC, SBRATE e SLARD.

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