Patologias do Ombro

Síndrome de Parsonage-Turner: o que é, sintomas e tratamento

Descubra o que é a síndrome de Parsonage-Turner, como reconhecer os sinais de alerta e quais cuidados aceleram a recuperação.

Relatos do tipo “a dor no ombro começou de repente, foi muito forte por alguns dias e, quando melhorou, meu braço parecia bambo e sem força” acendem um sinal importante para o especialista.

Um quadro com essa sequência de dor intensa seguida de fraqueza levanta a suspeita de síndrome de Parsonage-Turner, alteração neurológica que compromete nervos ligados aos movimentos e à sensibilidade do ombro e do braço.

Quando o paciente entende o que pode estar por trás desses sintomas, tende a buscar ajuda qualificada mais rápido e encara o tratamento com menos medo.

Causas da síndrome de Parsonage-Turner

A causa exata da síndrome de Parsonage-Turner ainda não está totalmente esclarecida.

O que se sabe é que, em muitos pacientes, o problema surge depois de algum tipo de situação que provoca estresse para o organismo.

Entre os gatilhos mais descritos estão:

  • Infecções virais ou bacterianas recentes, como gripe ou dor de garganta intensa.
  • Cirurgias de médio ou grande porte realizadas semanas antes do início dos sintomas.
  • Processos inflamatórios sistêmicos.
  • Vacinações em alguns casos relatados na literatura.
  • Situações de grande estresse físico ou emocional.

A principal hipótese é que ocorra uma resposta imunológica desajustada.

O sistema imunológico, ao reagir a uma infecção ou a outro estímulo, passaria a atacar por engano fibras nervosas do plexo braquial ou de nervos específicos, gerando inflamação, dor intensa e, depois, perda de função.

Embora o plexo braquial seja o foco mais clássico, nem sempre toda a estrutura é comprometida.

Em muitos pacientes, a inflamação se concentra em ramos isolados, o que explica a grande variedade de sintomas e combinações de fraqueza em diferentes músculos.

Como se manifesta

O quadro clínico costuma seguir um roteiro bastante característico, o que ajuda bastante na suspeita diagnóstica.

Fase de dor intensa

Tudo começa com uma dor muito forte, descrita por muitos pacientes como lancinante, em queimação ou em fisgadas profundas.

Essa dor costuma surgir na região supraclavicular, logo acima da clavícula, ou na região do ombro e parte alta do braço.

Algumas características comuns dessa fase:

  • Dor súbita, sem um trauma claro que justifique.
  • Intensidade alta, que atrapalha o sono e as atividades diárias.
  • Duração média de 7 a 10 dias, podendo variar de pessoa para pessoa.
  • Piora com pequenos movimentos do ombro ou do pescoço em alguns casos.

Enquanto a dor está no auge, muitas vezes ainda não há fraqueza evidente. O foco da queixa é mesmo o sofrimento causado pela dor, que leva muitos pacientes a procurar atendimento de urgência.

Início da fraqueza e da atrofia muscular

Depois de algum tempo, a dor deixa de ser o principal incômodo e entra em cena outro problema: o braço ou a mão começam a ficar “travados”, a força some e certos músculos vão perdendo volume.

Essa mudança de cenário, com dor em queda e fraqueza acompanhada de atrofia muscular ganhando destaque, é muito característica da síndrome de Parsonage-Turner.

O paciente costuma dizer que a dor melhorou, só que agora não consegue mais erguer o braço, segurar objetos com firmeza ou dar conta de tarefas simples do dia a dia.

Entre as manifestações mais comuns, destacam-se:

  • Fraqueza para elevar o braço acima da cabeça.
  • Dificuldade para afastar o braço do corpo.
  • Escápula “saltada” nas costas, típica de lesão do nervo torácico longo.
  • Perda de força para flexionar o cotovelo.
  • Alterações de sensibilidade em parte do braço, antebraço ou mão.

Diagnóstico

O caminho para o diagnóstico geralmente começa na conversa com o paciente e na observação cuidadosa durante o exame físico.

O médico procura saber quando a dor apareceu, quanto tempo permaneceu intensa, se houve infecção, cirurgia, vacinação ou outro evento marcante nas semanas anteriores e em que momento a fraqueza começou.

Depois, testa a força de grupos musculares específicos do ombro, braço e mão e avalia a sensibilidade da região, o que ajuda a identificar quais nervos podem estar comprometidos.

Nessa etapa, o especialista em patologias do ombro contribui bastante para diferenciar essa síndrome de outras causas de dor e fraqueza, como lesões de tendão, compressões nervosas na coluna cervical ou problemas articulares.

Alguns exames complementares costumam entrar na investigação:

  • Eletroneuromiografia: avalia a condução elétrica dos nervos e o comportamento dos músculos, confirmando o padrão de neuropatia.
  • Ressonância magnética: pode ser usada para descartar compressões de nervos por tumores, hérnias ou alterações anatômicas, além de estudar o plexo braquial.
  • Exames de sangue: ajudam a identificar infecções recentes ou doenças autoimunes associadas em casos selecionados.

A combinação de história típica, exame físico orientado e exames complementares bem indicados permite fechar o diagnóstico com maior segurança.

Tratamento

O tratamento costuma ser dividido em fases, acompanhando a evolução natural da doença.

1. Controle da dor na fase aguda

Nesse momento, o foco é controlar esse incômodo e permitir que a pessoa consiga manter minimamente a rotina.

O médico pode prescrever analgésicos, anti-inflamatórios por curto período e, em alguns quadros, remédios específicos para dor de origem nervosa.

Aplicação de gelo, ajuste de posição para dormir e uso de tipoias por períodos curtos, quando indicados, podem ajudar a encontrar posturas menos dolorosas.

O objetivo é tornar esse período mais suportável, já que a dor tende a diminuir gradualmente.

2. Reabilitação e fisioterapia

À medida que a dor cede e a fraqueza se torna o grande desafio, entra em cena a reabilitação. A fisioterapia tem papel fundamental para:

  • Recuperar a mobilidade do ombro, cotovelo, punho e mão.
  • Estimular músculos enfraquecidos e prevenir atrofia maior.
  • Evitar compensações que sobrecarregam outras articulações.
  • Treinar o paciente para adaptar tarefas do dia a dia durante a recuperação.

O plano de exercícios é montado de forma individualizada, respeitando o grau de fraqueza e o nível de dor de cada pessoa. Em muitos casos, o acompanhamento se estende por meses.

Tempo de recuperação e prognóstico

A recuperação da síndrome de Parsonage-Turner costuma ser lenta. Muitos pacientes apresentam melhora importante em 12 a 18 meses, mas há casos em que algum grau de fraqueza residual persiste por mais tempo.

Alguns fatores influenciam o prognóstico, como:

  • Quantidade de nervos acometidos.
  • Intensidade da fraqueza inicial.
  • Tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico.
  • Adesão à fisioterapia e às orientações médicas.

Mesmo quando a recuperação não é completa, o fortalecimento direcionado e o treino funcional permitem que a pessoa retome boa parte das atividades, com pequenas adaptações quando necessário.

Quando procurar atendimento médico

Certos sinais merecem avaliação rápida, pois podem indicar síndrome de Parsonage-Turner ou outras doenças neurológicas e ortopédicas que exigem cuidado especializado:

  1. Dor intensa no ombro ou região supraclavicular que surge sem trauma importante.
  2. Dor que dura vários dias e atrapalha o sono e as atividades diárias.
  3. Perda de força em um braço, especialmente se a fraqueza surge pouco tempo depois de uma fase de dor forte.
  4. Atrofia visível de músculos do ombro, braço ou mão.
  5. Alteração de sensibilidade associada à fraqueza.
  6. Sinais respiratórios incomuns, como falta de ar, em conjunto com o quadro de ombro.

Quanto mais cedo o diagnóstico é levantado, maiores as chances de direcionar adequadamente o controle da dor, proteger a função muscular e iniciar uma reabilitação bem estruturada.

Dr. Thiago Caixeta

Especialista em cirurgia minimamente invasiva de ombro e cotovelo em Goiânia, CRM/GO 1329, RQE 8070. Membro da SBOT, SBCOC, SBRATE e SLARD.

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